A jornada emocionante de Yuma em busca de independência e identidade
Você já se sentiu sufocada por uma rotina que parece segura, mas ao mesmo tempo te impede de respirar de verdade? 37 Segundos é um daqueles filmes que tocam fundo porque falam justamente disso: da necessidade urgente de existir por inteiro, mesmo quando o mundo insiste em nos limitar. Hoje quero te convidar a olhar com mais cuidado para essa obra delicada e poderosa. Fica comigo até o fim e, quem sabe, você também encontre um pedacinho seu nessa história.
Análise com spoilers
A Yuma, nossa protagonista, é uma jovem japonesa com paralisia cerebral. Mas eu te garanto: ela é muito mais do que um diagnóstico. Desde os primeiros minutos, dá pra perceber o talento dela como ilustradora e o quanto carrega de sensibilidade nas pontas dos dedos. O curioso é que, mesmo sendo brilhante, ela vive apagada — e não por escolha.
A prima, Sayaka, é quem aparece nos holofotes, assinando os mangás que Yuma escreve em silêncio. Isso já diz muito sobre como, em muitas culturas, principalmente na japonesa, o silêncio e a harmonia às vezes são mais valorizados que a justiça ou o reconhecimento. E Yuma aceita isso. Pelo menos no começo.
A relação com a mãe também pesa. Kyoko, superprotetora até demais, vive como se proteger a filha fosse mantê-la presa. Não por maldade, mas por medo. E talvez você conheça esse tipo de amor que sufoca — aquele que acredita que cuidar é controlar. Só que a Yuma está crescendo, e com isso vem a vontade de entender seu corpo, seus desejos e até o que significa amar ou ser amada de verdade.
Quando ela decide explorar sua sexualidade — sim, inclusive a primeira vez —, a gente vê o filme quebrar um dos maiores tabus sociais: o direito das pessoas com deficiência de viverem o amor e o prazer. É corajoso. E é humano. Ainda mais quando ela conhece pessoas que enxergam quem ela é por dentro, e não o que aparenta ser por fora. São relações improváveis, mas sinceras, que mostram que laço nenhum precisa seguir regra pra ser verdadeiro.
Aspectos técnicos
O roteiro assinado por Hikari é sensível e firme. Ele não transforma a Yuma numa heroína milagrosa, nem numa vítima eterna. Ela é uma mulher complexa, cheia de dúvidas, força, teimosia e doçura. E isso é raro de ver. A evolução dela acontece aos poucos, e quando percebemos, já estamos torcendo, chorando e respirando junto com ela.
A trilha sonora, composta pela Aska Matsumiya, é outro abraço no coração. As músicas entram nos momentos certos, sempre com um tom que mistura delicadeza e emoção. Há cenas em que ela está apenas olhando pela janela e você sente como se estivesse olhando também, só por causa da música. Não é exagero dizer que a trilha ajuda a gente a sentir o que ela não consegue dizer.
37 Segundos não é apenas um filme bonito. Ele é um convite sincero a olhar para o outro com mais compaixão — e, principalmente, para nós mesmas com mais coragem. A Yuma poderia ser qualquer uma de nós. Alguém cheia de talento, presa em uma rotina que não escolheu, tentando encontrar um jeito de existir por completo num mundo que insiste em colocá-la numa caixinha.
Se você busca uma história que vai te emocionar de verdade, que te desafia a repensar o que é liberdade, independência e amor-próprio, assista esse filme. Está na Netflix, pronto para tocar o seu coração — como tocou o meu.
Minha Nota: 10/10 – Você pode dizer que a atriz representou ela mesma, mas para uma cadeirante, superar suas limitações e se entregar ao papel com tamanha maestria pra mim foi bem tocante.
Até a próxima resenha!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem: Divulgação e Doramazine