resenha the trunk

The Trunk: drama psicológico coreano que prende do início ao fim

7ª Arte Resenhas de Filmes Tudo

Com personagens complexos e uma trama instigante, The Trunk mergulha nas dores silenciosas de uma sociedade obcecada por aparências.

O que faz alguém se casar por contrato? Em uma sociedade onde a aparência vale mais do que a verdade, onde o silêncio muitas vezes é confundido com força, The Trunk nos convida a abrir uma mala cheia de sentimentos reprimidos. Não é apenas um dorama sobre amor e mistério, mas sobre cicatrizes, expectativas sociais e a busca por pertencimento. E se você acha que já viu de tudo no universo dos k-dramas, prepare-se para ser surpreendido.

Análise com spoilers

Os personagens de The Trunk são moldados pela pressão cultural coreana de perfeição, silêncio e dever. Noh In-ji (Seo Hyun-jin) é uma mulher contida, precisa, quase intocável. Por trás de sua postura impecável, existe uma constante negociação entre quem ela é e quem precisa parecer ser. Sua atuação em uma empresa que organiza casamentos por contrato não é apenas irônica – é simbólica. Ela vive entre o desejo de um amor real e a necessidade de sobreviver dentro de uma estrutura que lucra com relações encenadas. Isso ecoa fortemente na cultura coreana, onde o casamento ainda é visto por muitos como uma obrigação social e não uma escolha pessoal.

Han Jeong-won (Gong Yoo) é um homem que carrega traumas mal resolvidos. Seu bloqueio emocional, seu distanciamento e a forma como se recusa a deixar o passado para trás falam sobre a dificuldade que muitos coreanos enfrentam em expressar dor. A masculinidade na Coreia do Sul ainda é, em muitos aspectos, rígida e silenciosa. Jeong-won é o retrato disso: alguém que sente muito, mas que não sabe como verbalizar. Sua conexão com In-ji não nasce da paixão imediata, mas de um encontro entre solidões – e isso é belíssimo de acompanhar.

O contrato entre eles não é o ponto de partida para o romance, e sim para a desconstrução. A série faz um trabalho delicado ao mostrar como ambos começam a se despir – não no sentido físico, mas emocional – até que a convivência forçada se transforma em um espaço seguro de vulnerabilidade. Essa construção lenta e dolorosa carrega uma autenticidade rara em doramas contemporâneos.

Aspectos técnicos

A trilha sonora de The Trunk é um dos grandes trunfos da narrativa. Composições melancólicas, mas delicadas, acompanham os silêncios que dizem mais do que as palavras. A música não invade, mas acolhe. Ela preenche o vazio das pausas, traduz os sentimentos que os personagens não conseguem expressar. É uma trilha feita para ser sentida, não apenas ouvida.

O roteiro, por sua vez, é cirúrgico. Não há excessos. Cada fala, cada olhar, carrega significado. O texto é sensível ao tempo interno dos personagens e respeita o espaço que eles precisam para se transformarem. Isso exige paciência do espectador, mas recompensa com profundidade e verdade.

Além disso, a direção aposta em enquadramentos que reforçam o isolamento – planos abertos que mostram os protagonistas distantes, mesmo quando estão lado a lado. Há uma beleza fria na estética do dorama, que ajuda a intensificar a sensação de que estamos assistindo não apenas a uma história de amor, mas a um estudo sobre as feridas invisíveis que cada um carrega.

The Trunk não é para quem busca respostas fáceis. É para quem deseja sentir, refletir e, acima de tudo, se emocionar com a verdade contida nos detalhes. Em um universo saturado de clichês, este dorama se destaca por sua coragem em abordar o silêncio, a solidão e os laços que se formam fora dos padrões.

Se você é fã de histórias que vão além da superfície, que exploram os limites da dor e do amor com maturidade, The Trunk precisa estar na sua lista. Dê uma chance para essa narrativa que não grita, mas sussurra com intensidade. Abra essa mala com coragem. Você não vai sair ilesa – e é exatamente por isso que vale a pena.

Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem: Divulgação

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