fome de sucesso - resenha

Fome de Sucesso: Ambição e Fragilidade no Palco da Alta Gastronomia

7ª Arte Resenhas de Filmes Tudo

Uma análise emocional e profunda que revela os dilemas humanos por trás da perfeição na cozinha

Na superfície, Fome de Sucesso parece mais um dorama sobre rivalidade culinária. No entanto, basta alguns episódios para perceber que o lakorn tailandês vai muito além da estética gourmet. Ele mergulha nos abismos da alma humana, onde ambição, vaidade, necessidade de validação e traumas moldam as escolhas de cada personagem. Em um cenário onde a perfeição é exigida a cada prato, o dorama revela o que realmente alimenta os sonhos — e os monstros — de seus protagonistas. Se você gosta de histórias intensas, com nuances psicológicas e atuações viscerais, Fome de Sucesso é obrigatório.

Análise com spoilers

A protagonista, Aoy, é um estudo fascinante de como o talento cru pode ser tanto uma dádiva quanto um fardo. Sua origem humilde contrasta com a sofisticação do universo que tenta conquistar, e a fome que carrega não é só por comida ou sucesso, mas por pertencimento. Aoy representa o indivíduo que tenta romper com o destino social que lhe foi dado, enfrentando a vergonha, a solidão e a dúvida. Ela não quer apenas vencer — ela quer ser reconhecida como digna.

O chef Paul, por sua vez, é o retrato da busca cega pela excelência. Perfeccionista, controlador, emocionalmente inatingível, ele molda sua cozinha como um templo, e seus funcionários como discípulos — ou peças descartáveis. A rigidez de Paul é típica de líderes cuja identidade se confunde com sua arte. Ao longo da trama, vemos como a pressão constante o transforma em alguém incapaz de amar ou se perdoar, perpetuando um ciclo de autodestruição revestido de glamour.

Essa dualidade entre Aoy e Paul expõe um eixo de tensão que lembra valores presentes também na cultura asiática em geral, especialmente na coreana: o peso das expectativas sociais, a disciplina rígida, a meritocracia como caminho de salvação. O dorama tailandês, embora situado em outro contexto cultural, compartilha dessa herança de honra, sacrifício e aparência — e é nesse ponto que o drama encontra ressonância com obras coreanas, como Misaeng ou Itaewon Class, onde os protagonistas precisam provar constantemente seu valor.

O universo da alta gastronomia funciona aqui como metáfora: a apresentação impecável dos pratos contrasta com as feridas internas dos personagens, muitas vezes invisíveis, mas sempre presentes.

Aspectos técnicos

A trilha sonora de Fome de Sucesso é um dos pilares emocionais da narrativa. Ao invés de ocupar o centro da cena, ela atua como uma camada emocional que amplifica cada gesto, cada silêncio, cada hesitação. O uso de melodias minimalistas e acordes em piano reforça o peso psicológico das cenas. Não há exagero — há precisão. Cada nota sublinha a angústia contida, a raiva velada, o orgulho ferido.

O roteiro é igualmente cuidadoso. Evita o maniqueísmo barato e aposta em personagens complexos, que erram, se contradizem, se perdem. Os diálogos são carregados de subtexto, e as ações dizem mais que palavras. A narrativa se desenrola em ritmo calculado, quase como um menu degustação: começa suave, instiga o paladar emocional, e entrega momentos explosivos no ponto certo.

O trabalho de câmera valoriza os espaços confinados da cozinha como se fossem arenas de batalha. Os close-ups intensificam as expressões dos personagens, enquanto a direção aposta em cenas contemplativas para que o público sinta o peso das escolhas feitas.

Fome de Sucesso não é um dorama fácil. Ele não oferece consolo imediato, nem finais reconfortantes embalados em laços. Mas é justamente por isso que ele se destaca. É uma obra que incomoda, que obriga o espectador a olhar para dentro — para as próprias ambições, inseguranças e julgamentos.

Se você busca um dorama que vá além do entretenimento, que dialogue com emoções profundas e ofereça atuações intensas, essa é a sua escolha. Assista. Não pelo glamour da cozinha, mas pela coragem de confrontar o que há por trás do sucesso.

Minha Nota: 10/10
Há também uma crítica social impactante e vale muito a pena.

Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem: Divulgação

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