Na Dramaland, o amor resiste a tragédias, a possessões espirituais, a doenças terminais e até a reencarnações. Mas uma coisa parece ainda assustar parte do público coreano: mulheres mais velhas apaixonadas por homens mais jovens.
O dorama Amor no Paraíso, que lidera a audiência na Coreia do Sul, tem uma premissa emocionante: depois de uma vida cheia de altos e baixos, um casal separado pela morte se reencontra no céu. Lá, ele aparece com a aparência dos 30 anos, e ela com a dos 80. A história é simbólica, poética — e tocante. Mas o que chamou a atenção de parte do público coreano foi o “absurdo” de ver uma atriz mais velha contracenando com um ator mais jovem.
Ignoraram o roteiro, o simbolismo, a proposta. O incômodo? Estético. Visual. Etarista.
Esse tipo de crítica não é nova. The Glory ouviu murmúrios parecidos. 18 Outra Vez também. Até em doramas mais leves como Intensivão do Amor, essa diferença de idade virou pauta. Como se a mulher precisasse ter um prazo de validade para ser desejável. Como se o público ainda precisasse de autorização cultural pra aceitar que afeto, admiração e paixão não seguem uma régua de cronômetro ainda mais quando atrizes mais velhas contracenam com atores mais novos.
Mas a verdade é que essas histórias incomodam porque desmontam uma lógica machista e conservadora que ainda persiste na indústria do entretenimento — e fora dela. Mulheres maduras sendo amadas por homens mais jovens não são tabu. São realidade. E merecem ser retratadas com o mesmo encantamento que os casais “aceitáveis”.
No fim, não é sobre idade. É sobre projeção. Quem enxerga desconforto em histórias assim talvez precise se perguntar: por que isso me incomoda tanto?
E que bom que os doramas estão ajudando a fazer essas perguntas.
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Ceo e Editora Chefe
Imagem: Doramazine