Em seu delicado romance de estreia, Michiko Aoyama nos convida a reencontrar os sonhos que deixamos adormecidos — com a ajuda de uma bibliotecária inesquecível
Você se lembra da última vez em que alguém fez uma pergunta simples e, ainda assim, te parou por dentro? Algo como “o que você está procurando?”. Em O que você está procurando está na biblioteca, a autora japonesa Michiko Aoyama constrói uma narrativa que parece nascer dessa pergunta — sutil, mas capaz de mudar rotas de vida.
- Título: A biblioteca dos sonhos secretos: Uma história sobre a magia dos livros e seu poder de conectar pessoas
- Autora: Michiko Aoyama (Japão)
- Ano de lançamento no original: 2021 (japonês)
- Onde encontrar: Amazon – Kindle, Capa Comum e AudioLivro (comprando por um desses links gera uma comissão para mantermos o Doramazine)
Neste romance estruturado em cinco contos que se entrelaçam com ternura, acompanhamos personagens comuns em momentos de travessia. Uma jovem que trabalha sem brilho em uma loja de roupas, um contador que já não vê sentido em seus dias, uma mulher que abandonou a carreira editorial para cuidar do filho, um homem desempregado após anos numa grande empresa e um idoso que se recusa a aceitar a aposentadoria como fim. Todos eles, por diferentes razões, acabam cruzando os portões de uma pequena biblioteca municipal em Tóquio — e encontrando ali muito mais do que esperavam.
A alma da obra é Sayuri Komachi, a bibliotecária que os recebe. De aparência marcante e palavras doces, ela possui um talento incomum: escuta o que não é dito. Quando pergunta “o que você está procurando?”, não espera uma resposta racional. E mesmo que os visitantes peçam livros técnicos ou manuais de instrução para resolver problemas práticos, ela sempre lhes entrega algo inesperado — um romance, uma biografia, um volume esquecido — e junto, um pequeno objeto feito à mão. O que à primeira vista parece aleatório, se revela, aos poucos, como um sopro certeiro de inspiração.
Michiko Aoyama escreve com suavidade e calor humano. Sua prosa não busca o brilho da originalidade estilística, mas a força do cotidiano. Há beleza no modo como ela trata as hesitações silenciosas das pessoas, os sonhos abandonados por conveniência, a solidão escondida sob rotinas. Cada capítulo oferece um espelho — às vezes desconfortável, outras vezes acolhedor — e reforça uma ideia: nunca é tarde para se escutar com honestidade.
É verdade que a obra pode soar sentimental em alguns momentos, e há quem deseje mergulhos psicológicos mais profundos do que os que são oferecidos aqui. Mas essa não parece ser a proposta. Aoyama escreve como quem deixa uma xícara de chá ao lado do leitor, não para dar respostas, mas para estar junto. Há algo de reparador na leitura, especialmente em tempos de pressa e ruído.
Outro ponto que merece atenção é a caracterização da própria Komachi, cuja descrição física é repetidamente associada ao humor ou ao espanto. Em uma obra tão sensível às dores alheias, esses trechos destoam um pouco do tom geral, embora não comprometam a mensagem maior.
Nota: ⭐⭐⭐⭐ 4/5
Dou nota 4 porque, embora emocionalmente rica e lindamente estruturada, a obra não aprofunda tanto as personagens quanto poderia. Ainda assim, seu charme sutil e a forma acolhedora com que trata transformações pessoais a tornam uma leitura memorável.
O que você está procurando está na biblioteca é um convite ao reencontro consigo. Não se trata de um livro sobre livros, mas sobre o poder silencioso da escuta — de si e do outro. É ideal para quem aprecia histórias que aquecem aos poucos, como um cobertor macio em fim de tarde.
Recomendo especialmente a leitores que se encantaram com Antes que o Café Esfrie ou A Cafeteria da Lua Cheia. Aqui, não há grandes reviravoltas nem dramas intensos. O que há é a certeza de que, às vezes, um bom livro — e uma boa pergunta — podem nos levar exatamente onde precisamos ir.
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação