Como a sensibilidade coreana e japonesa captura a inquietação da juventude
Para quem deseja mergulhar de forma direta, aqui vai um ponto de partida: da Coreia do Sul, “Semantic Error” disponível no Viki; do Japão, “My Beautiful Man” disponível no Viki. Esses dois títulos ilustram bem a sensibilidade distinta de cada país, sem perder o fio emocional que costura o gênero.
A primeira faísca costuma ser um olhar. Não um olhar qualquer, mas aquele que paira por tempo demais, carregado de hesitação e coragem ao mesmo tempo. Nos BLs coreanos e japoneses, o desejo não chega fazendo alarde. Ele sussurra. Insinua. Acontece no intervalo entre uma xícara de café e uma confissão mal formulada. E talvez seja exatamente por isso que conversa tão bem com a juventude de hoje, sempre suspensa entre a vontade de sentir e o medo de se expor.
A estética dessas narrativas funciona como um palco emocional. Nos BLs coreanos, a câmera se aproxima devagar, como se pedisse permissão para tocar na pele dos personagens. Tudo é polido, suave, controlado. Há um tipo de pudor que não reprime; apenas torna o gesto mais precioso. Já nos japoneses, o desejo costuma ser mais cru, mais cotidiano, quase tímido. A beleza nasce do desconforto, da pausa torta, do sentimento que tenta existir mesmo quando o mundo parece pequeno demais para ele.
Essa linguagem visual diz muito sobre o presente. Jovens queer vivem em uma encruzilhada permanente: querem se reconhecer, mas também querem entender até onde podem ir sem perder a si mesmos. Os BLs oferecem um mapa emocional que não é perfeito, mas é familiar. Mostram personagens que aprendem a se encarar no espelho, mesmo quando esse reflexo devolve dúvidas, traumas e uma fome silenciosa por conexão.
O desejo que esses dramas retratam não é apenas romântico. É o desejo de ser visto, compreendido, escolhido de forma sincera. Por isso, cada toque lento, cada respiração suspensa, cada cena em que nada acontece e tudo acontece, tem peso simbólico. No fim, a estética funciona como linguagem para aquilo que muitos jovens ainda não conseguem verbalizar.
O impacto disso é simples e profundo. Em um mundo rápido, ansioso e performático, os BLs lembram que o afeto continua sendo um território de descoberta. Para quem cresceu sem se ver nas telas, essa delicadeza funciona como uma porta entreaberta rumo a uma vida mais honesta consigo mesma.
Os BLs coreanos e japoneses não oferecem respostas definitivas. Oferecem sensações. E, às vezes, é justamente isso que move uma geração inteira.
por Kyara Y., colunista digital do Doramazine
