Uma jornada entre memória, luto e o desejo de recomeçar
Imagine perder o grande amor da sua vida, apenas para sentir após o tempo que ele — de alguma forma — voltou. Essa é a premissa potente de Depois do Adeus, minissérie japonesa de 2024 disponível na Netflix.
Se você topar embarcar nessa história delicada e emocional comigo, prometo te guiar pelos recantos mais sensíveis desse enredo (inclusive spoilers adiante). Vamos?
Sinopse (sem spoilers)
Saeko vê sua vida ser destruída no dia em que Yusuke, seu namorado, a pede em casamento — ele morre num acidente de ônibus logo em seguida.
Enquanto ela enfrenta o luto profundo, um jovem chamado Naruse entra em cena: ele sobreviveu graças a um transplante de coração — e aquele que ele recebeu era de Yusuke.
Instantaneamente, Saeko sente uma estranha familiaridade em relação a Naruse. Aos poucos, ele também começa a reviver “fragmentos” do passado que parecem não lhe pertencer. O que significa essa conexão? É acaso, destino ou memória que insiste em se manifestar?
A série tem 8 episódios.
Spoilers à frente — análise profunda
Relações e agonias psicológicas
O conflito interno de Saeko é o núcleo pulsante da narrativa. Ela ama Yusuke — mas ele se foi. Amar Naruse é trair a memória dele? Ou permitir que o amor se transforme com novas formas? Esse conflito toca a ferida de quem já perdeu e teve medo de seguir adiante.
Naruse, por sua vez, carrega um peso existencial: ele revive comportamentos, palavras e lembranças que não são suas, mas que ecoam do passado. É uma carga impossível de suportar. Em muitos momentos, ele se questiona: quem sou eu? E se suas vontades verdadeiras forem sufocadas por memórias implantadas?
A presença da esposa oficial de Naruse, Miki, acrescenta outra camada: amor, ciúmes, autopreservação. Ela vive no limbo entre apoiar o esposo e reivindicar seu espaço legítimo, enquanto enfrenta o temor de perder tudo para algo que parece “eterno”.
O roteiro não pinta personagens como totalmente bons ou maus. O drama entrelaça culpa, perdão e o querer morrer por dentro enquanto ainda respira — um dilema comum em contextos de luto e reconstrução emocional.
Roteiro e condução narrativa
Com apenas oito capítulos, a série opta por narrativa enxuta e simbólica. Alguns arcos ficam menos explorados do que poderiam (por exemplo, mais vida antes do acidente, ou cenas de convivência com Miki).
Por outro lado, há momentos bem construídos de revelação gradual — quando Saeko descobre a verdade, quando Naruse enfrenta seus limites — que geram tensão e dor genuína no espectador. A escolha de cenas “silenciosas”, olhares longos e ambientações minimalistas ajuda a amplificar o impacto emocional da trama.
Trilha sonora e ambientação
A atmosfera sonora e musical é discreta e comedida, funcionando mais como corda sutil que sustenta as emoções do que como protagonista. Isso casa bem com o estilo intimista da série: menos “gritos externos”, mais sussurros internos.
A ambientação em Hokkaidō, nas paisagens geladas, e o trecho final no Havaí (fazenda de café) criam contrastes visuais que reforçam simbolicamente o percurso dos personagens — da frieza e dor ao calor e renovação.
Desfecho explicado (tema polêmico)
No último episódio, Saeko vai viver no Havaí, trabalhando numa fazenda de café. Miki — esposa de Naruse — comunica que ele está muito doente e deseja passar seus momentos finais.
Apesar de Naruse estar fragilizado, ele toma uma decisão importante, que pode ser interpretada como renúncia, aceitação ou redenção.
Esse final funciona como metáfora ambígua: o amor que sobrevém pode não ser o mesmo amor do passado, mas pode ser uma continuação de seus ecos. Nem todos ganham, nem todos perdem — alguns simplesmente aprendem a conviver com o legado moral e afetivo que carregam.
A série não entrega todas as respostas em um pacote hermético. O espectador é convidado a refletir: até que ponto somos nós, até que ponto somos lembranças do outro?
Conclusão & Nota
Depois do Adeus emociona com sua premissa delicada, apesar de carecer de um desenvolvimento mais robusto em certos personagens secundários. O verdadeiro mérito está nas emoções à flor da pele que desperta — o peso do luto, da culpa, da identidade.
Nota: 4,0 / 5,0
Classifico com quatro estrelas por sua coragem emocional e originalidade, embora reconheça limitações de profundidade em alguns arcos narrativos.
Se você aprecia dramas contemplativos e quer um dorama (ou melhor: drama japonês) que se envolva com destino e memória, recomendo muito.
O amor às vezes retorna com outros nomes, outras formas — mas a dor e a saudade são universais. Se quiser que eu compare esse dorama com outros que também exploram transplante / reencarnação / memória (ou quem sabe curadoria de trilha sonora especializada), é só me pedir!
Até a próximo resenha!!
Esse vídeo está dublado e tem a legenda em português desde que esteja configurada no seu YouTube.
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação