Uma imersiva obra cinematográfica japonesa que explora luto, arte e conexões humanas profundas.
Alguns filmes não apenas contam uma história, mas nos conduzem por ela como se estivéssemos sentados no banco do passageiro, escutando as entrelinhas do silêncio e observando as paisagens da alma humana. “Drive My Car”, do diretor japonês Ryūsuke Hamaguchi, é exatamente esse tipo de obra. Com uma narrativa contemplativa e emocionalmente sofisticada, o filme propõe uma viagem interior marcada por perdas, reconexões e pela força transformadora da arte. Esta é uma experiência cinematográfica que convida à escuta atenta e à entrega sensível.
Sinopse (sem spoilers)
O protagonista é Hidetoshi Nishijima, que interpreta Yūsuke Kafuku, um ator e diretor de teatro japonês cuja vida muda drasticamente após a morte inesperada de sua esposa. Dois anos depois, ele aceita dirigir uma produção teatral multilíngue de Tio Vânia em Hiroshima, e é designado a ter como motorista a jovem e reservada Misaki Watari (interpretada por Tōko Miura), que passa a acompanhá-lo em sua rotina de ensaios e reflexões. Durante esse processo, vão surgindo segredos, culpas, conflitos não resolvidos e uma inesperada cumplicidade. A narrativa transcorre como um diálogo íntimo entre passado e presente, entre a arte e a vida, sem pressa de chegar a conclusões fáceis.
Ficha Técnica
- Título original: ドライブ・マイ・カー
- Ano: 2021
- País: Japão
- Diretor: Ryūsuke Hamaguchi
- Roteiro: Ryūsuke Hamaguchi e Takamasa Ōe (baseado no conto de Haruki Murakami)
- Elenco principal: Hidetoshi Nishijima, Tōko Miura, Reika Kirishima, Masaki Okada
- Fotografia: Hidetoshi Shinomiya
- Música: Eiko Ishibashi
- Duração: cerca de 179 minutos
- Idioma: Japonês (com várias línguas e também língua de sinais coreana)
- Streaming: Netflix
Bastidores
A adaptação se inspira no conto homônimo de Haruki Murakami (da coletânea Men Without Women, 2014), mas o roteiro de Hamaguchi amplia o arco narrativo, integrando outros elementos da obra original e expandindo os personagens.
Originalmente o local da produção seria em Busan, Coreia do Sul; no entanto, em razão da pandemia, a ambientação mudou para Hiroshima.
O diretor escolheu como carro-símbolo um Saab 900 Turbo vermelho — enquanto no conto de Murakami era amarelo — para valorizar visualmente o contexto de Hiroshima e facilitar diálogos no veículo.
A música de Eiko Ishibashi complementa a narrativa de forma sutil, evitando o sentimentalismo óbvio e abraçando o silêncio e o espaço entre as palavras.
Curiosidades
- Foi o primeiro filme japonês a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme.
- Ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional e também foi indicado a outras categorias importantes.
- Mesmo com mais de duas horas de duração, a crítica elogia a construção de ritmo e o modo como a história “acontece” mais do que “é explicada”.
- O filme faz uso expressivo de diferentes línguas (japonês, coreano de sinais, mandarim, tagalo, entre outras) para enfatizar a barreira da comunicação e a universalidade da dor e da arte.
Se você ama cinema que respira, que dá espaço à reflexão, ao silêncio e ao que não se diz, então “Drive My Car” é para você. Ele não apenas narra uma história — ele convida você a entrar nela, a sentir cada curva da estrada, cada hesitação no olhar, cada confissão não verbalizada. A arte inserida na vida, a dor que se torna criação, a possibilidade de recomeço — tudo se entrelaça. Eu recomendo que assista num momento em que possa dedicar seu tempo, pois este filme o recompensa com ecos que permanecem bem depois dos créditos finais. Permita-se deixar o carro avançar, em meio a pausas, e sinta cada quilômetro desta jornada íntima.
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Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação
