Home / Tudo / Entre o Drama e a Realidade: Machismo e Misoginia em Doramas

Entre o Drama e a Realidade: Machismo e Misoginia em Doramas

editorial da semana 5

Tem dias que, mesmo no aconchego do meu sofá, com um café descafeinado nas mãos e o som da trilha instrumental de algum dorama romântico preenchendo o silêncio da casa, eu sou arrancada desse pequeno paraíso por algo que insiste em atravessar a tela: o machismo. Às vezes é sutil, disfarçado de cavalheirismo. Outras, é escancarado — na forma como uma personagem é silenciada, diminuída ou, pior, romantiza uma relação tóxica. E eu fico ali, dividida entre a beleza do roteiro e o incômodo do que ele normaliza. Como mulher, e mais ainda como alguém que cresceu cercada por vozes femininas fortes, dói ver essas feridas reencenadas como se fossem prova de amor.

Lembro do meu primeiro dorama, daqueles que a gente assiste sem filtro. Eu me apaixonei perdidamente pelo casal principal, mas só anos depois percebi que o que me encantava era, na verdade, o velho clichê da mocinha submissa sendo “corrigida” pelo homem rude — e não, isso não é amor. É condicionamento. E eu não sou a única. Muita gente, principalmente mulheres, se conecta aos doramas porque eles oferecem um refúgio emocional, mas é perigoso quando esse refúgio reforça o que a gente luta tanto pra desconstruir. O problema não é amar doramas. É não questioná-los.

Ainda assim, há esperança. Doramas como Because This is My First Life ou My Liberation Notes já começaram a provocar rachaduras nessa parede antiga. Mulheres complexas, que não vivem em função do outro. Homens que aprendem, que ouvem, que erram e mudam. E essas narrativas me fazem respirar aliviada. Porque, para mim, cultura asiática sempre foi sinônimo de beleza, sensibilidade e profundidade. E é justamente por amar tanto que não consigo ignorar o que fere — assim como numa relação verdadeira, onde a gente se importa o suficiente pra dizer: “isso aqui precisa mudar”.

Eu sigo acreditando que contar histórias pode curar. E também pode libertar. O Doramazine nasceu do meu desejo de compartilhar esse amor por narrativas que nos tocam, mas também de provocar reflexão. Porque ser fã não é aceitar tudo. É querer o melhor daquilo que se ama. E, como mulher que cresceu entre novelas brasileiras e trilhas dos anos 70, eu carrego na escrita essa mistura de passado e presente, de sonho e consciência. Não quero um final feliz qualquer. Quero um final justo. Para mim. Para você. Para todas nós que amamos doramas — mas não aceitamos mais ser figurantes na nossa própria história.

E você como vê esse tema nos doramas problemático ou normal afinal é ficção?

Até a próxima semana!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação

Marcado:

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

dreamfest

Todos textos são de responsabilidade dos nossos colunistas.
Algumas imagens utilizadas neste site são produzidas com
auxílio de ferramentas de IA generativa para fins ilustrativos.