Você sabia que a animação chinesa, conhecida como donghua (动画), não só é rica em tradição, como também está ganhando cada vez mais espaço no cenário global? Desde seus primeiros traços, ainda no século XX, até a atualidade, com produções que brilham em plataformas como a Netflix, o donghua é uma jornada de criatividade, resistência e inovação.
Vamos embarcar nessa viagem no tempo e entender como a China usou a animação para contar suas histórias, preservar sua cultura e impressionar o mundo?
Os Primeiros Passos do Donghua
A história da animação na China começou oficialmente nos anos 1920, quando os irmãos Wan (Wan Laiming, Wan Guchan, Wan Chaochen e Wan Dihuan) decidiram levar os contos e lendas do país para as telas. Esses pioneiros criaram obras que marcaram a história, como The Camel’s Dance (1935), o primeiro curta-metragem chinês com som.
Mas foi em 1941, com o lançamento de Princess Iron Fan, que a China entrou para o mapa mundial da animação. Este foi o primeiro longa-metragem animado do país, produzido em plena Segunda Guerra Sino-Japonesa. Inspirado por filmes da Disney, mas com um toque local, a obra mostrou que a animação podia ser uma ferramenta poderosa para preservar a identidade cultural.
Animação na Era Maoista: Um Instrumento de Propaganda
Com a fundação da República Popular da China em 1949, o governo centralizou a produção de animações, transformando-as em uma ferramenta de educação e propaganda. Durante o período maoista, o donghua tinha como missão reforçar valores socialistas, ensinando o público — especialmente as crianças — sobre a importância do trabalho coletivo e da unidade nacional.
Embora o controle estatal tenha limitado a diversidade criativa, a animação dessa época se destacou pelo uso de técnicas artísticas tradicionais, como o corte de papel e a pintura em rolos de seda, o que dava aos filmes um visual único e profundamente conectado à cultura chinesa.
Renascimento e Inovação na Animação Chinesa
Com as reformas econômicas dos anos 1980, lideradas por Deng Xiaoping, a animação chinesa ganhou fôlego. Estúdios como o Shanghai Animation Film Studio começaram a explorar mitos, lendas e contos de fadas chineses em suas produções. Foi nesse período que obras como Monkey King (baseada no clássico Jornada ao Oeste) e Lotus Lantern encantaram tanto o público local quanto internacional.
Ao mesmo tempo, as animações japonesas começaram a influenciar a indústria chinesa. Isso trouxe novos estilos e técnicas, desafiando os artistas a inovar, mas sem perder a essência cultural.
A Chegada ao Cenário Global
No século XXI, o donghua deu um salto gigantesco rumo ao mercado internacional. Filmes como Ne Zha (2019) e Monkey King: Hero is Back (2015) não apenas bateram recordes de bilheteria na China como também conquistaram fãs ao redor do mundo.
E não parou por aí! Plataformas de streaming como Netflix e Amazon Prime Video abriram as portas para títulos como A Caminho da Lua (2020) e Din e o Dragão Genial (2021). Essas produções, além de visualmente impressionantes, trouxeram narrativas emocionantes que misturam elementos tradicionais e contemporâneos.
Produções Modernas: Entre Tradição e Inovação
Hoje, a animação chinesa se divide entre filmes tradicionais e séries de donghua que fazem sucesso no formato online. Títulos como The King’s Avatar e Fog Hill of Five Elements mostram que o país encontrou um equilíbrio entre preservar sua herança cultural e abraçar a modernidade.
Com uma mistura de técnicas avançadas de animação 3D e estilos artísticos que remetem à caligrafia e às pinturas chinesas, essas produções encantam audiências globais, provando que o donghua é muito mais do que um nicho.
O Soft Power da Animação Chinesa
A expansão do donghua também faz parte de uma estratégia maior da China para aumentar sua influência global através da cultura. Assim como o K-pop é um símbolo da Coreia do Sul, a animação chinesa se tornou uma ferramenta de soft power, apresentando ao mundo sua rica história e seus valores por meio de personagens cativantes e histórias universais.
Além disso, a China tem investido pesado na formação de novos talentos, criando parcerias com estúdios internacionais e aprimorando suas tecnologias de animação.
Desafios do Donghua na Atualidade
Apesar do sucesso crescente, a animação chinesa enfrenta desafios importantes:
- Competição Internacional: Disputar a atenção do público com gigantes como Disney, Pixar e os estúdios japoneses não é tarefa fácil.
- Manter a Identidade Cultural: Enquanto busca apelo global, o donghua precisa preservar suas raízes e continuar sendo um reflexo da cultura chinesa.
- Inovação Constante: Para se destacar, a indústria deve continuar investindo em tecnologia e criatividade, equilibrando tradição e modernidade.
O Futuro do Donghua: Promissor e Inspirador
Com o crescente reconhecimento internacional, a animação chinesa está apenas começando a mostrar todo o seu potencial. O investimento em histórias únicas e em técnicas visuais impressionantes coloca o donghua no mesmo patamar de outras grandes indústrias de animação.
Além disso, a popularidade de plataformas de streaming garante que essas produções alcancem públicos de todos os cantos do mundo, ampliando ainda mais o alcance da cultura chinesa.
Curiosidades Sobre a Animação Chinesa:
- Primeira Animação Colorida: Why is the Crow Black-Coated (1956) foi a primeira animação em cores da China.
- Maior Sucesso de Bilheteria: Ne Zha arrecadou mais de 700 milhões de dólares, tornando-se o filme de animação de maior sucesso da história chinesa.
- Estilo Único: Muitos donghua incorporam elementos de wuxia, o gênero de histórias de guerreiros e artes marciais, criando uma identidade visual e narrativa única.
A Arte Que Transcende Fronteiras
A trajetória do donghua é uma prova de que, com criatividade e resiliência, é possível conquistar o mundo. De suas raízes humildes nas mãos dos irmãos Wan à sua posição atual como uma força global, a animação chinesa continua a encantar audiências com suas narrativas ricas e visuais impressionantes.
Se você ainda não explorou o universo do donghua, esta é a hora perfeita para começar. Prepare-se para se apaixonar por histórias que misturam tradição, aventura e um toque mágico que só a China sabe oferecer. Afinal, a animação é uma arte que fala direto ao coração, e o donghua sabe exatamente como emocionar!
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem Doramazine IA