Luk Thung

Luk Thung: A Alma Rural da Tailândia

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Conheça o gênero que canta o interior da Tailândia com emoção e verdade — entre fé, saudade, esperança e a dura realidade do povo.

Já sentiu uma canção te levar direto pra estrada de terra batida, com o som das cigarras ao fundo e o cheiro da tarde depois da chuva? Assim é o Luk Thung, a música que carrega a alma do povo tailandês. Muito além do pop moderno, esse gênero é um retrato vivo das emoções que movem o país.

Muito antes dos holofotes sobre o T-pop e os idols dos BL dramas, a Tailândia já cantava sua verdade nas vozes do campo. O Luk Thung, nascido nos anos 50, é um estilo que nasce da terra — e fala diretamente para quem vive nela.

Mais do que um gênero musical, o Luk Thung é uma narrativa coletiva: um agricultor apaixonado que migra para a cidade grande e escreve cartas à sua amada; uma jovem que espera o namorado que foi servir ao exército; uma mãe que reza no templo para o filho voltar pra casa. Cada música é uma crônica cantada — e ouvida com o coração.

Os vocais, cheios de melismas e emoção, quase sempre trazem um quê de oração. Muitos artistas do gênero iniciaram suas carreiras cantando em cerimônias budistas ou festivais de vila. Os instrumentos misturam o tradicional khaen (um tipo de flauta de boca do nordeste) com sintetizadores dos anos 80, criando um som único, quase místico.

Um dos maiores nomes da história do Luk Thung foi Pumpuang Duangjan, apelidada de “Rainha do Campo”. Suas músicas misturavam crítica social e empoderamento feminino numa época em que poucas vozes ousavam isso. Em suas letras, ela questionava o machismo, falava da vida das mulheres que criavam filhos sozinhas e denunciava as injustiças da pobreza — tudo com melodias lindas que pareciam abraçar quem ouvia.

Mesmo com a urbanização do país, o Luk Thung sobrevive. Hoje, ele se reinventa: novos artistas misturam beats modernos, visuais ousados e danças virais com a mesma essência simples e profunda de antes. Nas vilas, ainda é comum ver avós ensinando as netas a cantar essas músicas em festas regionais. E nas grandes cidades, muitos tailandeses ouvem Luk Thung com o mesmo orgulho de quem ouve suas próprias raízes.

A Tailândia tem o brilho das luzes de Bangkok, mas o coração dela bate mesmo no interior — e o som desse coração é o Luk Thung. Uma música que não tem vergonha de ser simples, de doer, de amar, de esperar. E que merece ser ouvida com calma, como quem senta na varanda ao entardecer.

Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem: Divulgação

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