Um evento de caridade que prometia glamour e solidariedade revelou um lado desconcertante da indústria
Resolvi adiantar o editorial da semana trazendo a polêmica da semana para uma reflexão.
Eventos beneficentes carregam, ou ao menos deveriam carregar, um propósito maior: o de unir visibilidade e recursos em prol de quem mais precisa. Quando o tema é o câncer de mama — uma doença que afeta milhões de mulheres e suas famílias em todo o mundo —, espera-se, no mínimo, respeito. Mas o que se viu em um dos mais tradicionais eventos de caridade da Coreia do Sul, promovido por uma revista de moda, foi tudo menos isso.
O cenário parecia saído de uma balada de luxo: convidados em clima de festa, copos erguidos como se fosse réveillon, e insinuações de flertes em um ambiente que deveria ser de solidariedade. A leveza da noite, contrastando com a gravidade da causa, provocou um incômodo legítimo. Não é exagero esperar uma postura mais sóbria em um evento que se propõe a apoiar mulheres que enfrentam uma batalha pela vida.
Mais desconcertante ainda é saber que, em vinte anos de existência, esse evento arrecadou, somando tudo, menos de um milhão de dólares — um valor quase simbólico diante da presença de marcas como Chanel, Prada, Valentino e Gucci. E também da aparição de ídolos cujas imagens movem multidões. Como é possível que, com tanto prestígio, tão pouco tenha sido de fato revertido em ajuda concreta?
Parte da discussão também recaiu sobre a presença de membros do BTS, o grupo mais influente da Coreia na atualidade. Muitas fãs, na tentativa de protegê-los, atribuíram a polêmica exclusivamente à presença deles, como se o problema fosse uma suposta perseguição, e não o contexto geral. Mas a crítica nunca foi individualizada — ela é coletiva. Quando todos os presentes escolhem o silêncio ou o deslumbramento, ignorando o verdadeiro motivo da noite, a responsabilidade se torna compartilhada.
Infelizmente, o que se viu nas redes sociais foi um comportamento preocupante: ataques, insultos e até perseguições digitais contra quem ousou questionar a postura de seus ídolos. Isso revela um fanatismo cego que transforma figuras públicas em entidades intocáveis. É preciso lembrar: o mundo não gira em torno do BTS, nem de nenhum outro grupo. Fãs que dizem amar seus ídolos deveriam ser os primeiros a reconhecer a importância da empatia — afinal, esse é um valor presente em muitas das músicas que tanto os inspiram.
Admirar uma celebridade não deve anular o senso crítico. Se há falhas — e todos somos humanos para errar — o mais nobre é reconhecê-las, aprender e evoluir. A verdadeira lealdade não é a que encobre, mas a que educa. Num evento que se diz beneficente, o mínimo que se espera é que todos — organização, marcas, convidados e fãs — estejam verdadeiramente presentes pela causa. Tudo fora disso, é performance.
Vamos refletir juntos: até onde vai a responsabilidade coletiva em eventos assim? E que tipo de apoio queremos oferecer às causas que dizemos apoiar?
Comente, compartilhe, e que essa conversa siga viva — pela memória de quem lutou e pela dignidade de quem ainda luta.
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação