O despertar de uma nova era nos becos sombrios dos assassinos profissionais
Quando Kill Boksoon (2023) sacudiu o cinema de ação coreano com sua protagonista complexa e dilemas morais entre matar e proteger, muitos se perguntaram se haveria espaço para expandir aquele universo. Mantis: Caos Silencioso no Universo Kill Boksoon surge como resposta, um spin-off que tenta reorganizar o caos e reconstruir a estrutura do submundo dos assassinos profissionais. É uma aposta ousada, que alterna momentos de brilho e dispersão, mas que reafirma a força do cinema de ação sul-coreano em criar mitologias próprias.
Sinopse (com spoilers)
Após os eventos que abalaram a MK Enterprise, a agência secreta de assassinos de Kill Boksoon, o matador de elite Lee Han-ul, conhecido como Mantis (Im Si-wan), retorna do exílio. Ao reencontrar um mundo tomado por disputas internas e traições veladas, ele percebe que o antigo equilíbrio de poder ruiu.
Entre alianças frágeis e conspirações silenciosas, Mantis se vê dividido entre restaurar a ordem ou reconstruir tudo à sua maneira. No caminho, cruza novamente com Jae-yi (Park Gyu-young), ex-colega e rival, cuja expulsão da MK desperta antigas feridas e sentimentos contraditórios. Enquanto isso, o veterano Dok-go (Jo Woo-jin) ressurge das sombras para reivindicar o trono e reerguer o império perdido.
O retorno inesperado de Boksoon (Jeon Do-yeon), em uma breve aparição, serve como lembrança de que a violência cobra seu preço — e de que o silêncio pode ser tão letal quanto qualquer lâmina.
Análise dos Personagens (psicológica e cultural)
Lee Han-ul / Mantis
O protagonista representa a nova geração de assassinos — ambiciosa, calculista e emocionalmente contida. Sua busca por poder é também uma tentativa de autodefinição num universo que já não possui códigos morais claros. Psicologicamente, Han-ul transita entre a culpa e a necessidade de pertencimento, um dilema profundamente enraizado na cultura coreana de hierarquia e honra.
Culturalmente, ele encarna a tensão entre tradição e modernidade: um matador que quer inovar, mas é constantemente puxado pelo peso do legado que tenta superar.
Jae-yi
Jae-yi é o coração ferido do filme. Sua trajetória de rejeição e retorno funciona como contraponto emocional ao pragmatismo de Mantis. Mais do que rival, ela é o espelho moral do protagonista — representa o que ele teme se tornar: alguém consumido pela culpa. A relação entre ambos é marcada por atração, raiva e uma estranha solidariedade, revelando um dos vínculos mais complexos da trama.
Dok-go
Símbolo da velha guarda, Dok-go traz a rigidez da geração que acreditava em regras e hierarquia. Ele é o reflexo do passado tentando resistir ao colapso. Sua presença carrega uma melancolia rara, uma nostalgia por uma ordem que já não pode existir. É o personagem que mais expressa a ideia de “caos silencioso” — aquele que grita por dentro, mas age com contenção letal.
Boksoon
A breve aparição de Boksoon é uma das cenas mais simbólicas do filme. Sua presença impõe respeito e resignação. Ao aconselhar Mantis, ela reafirma a ambiguidade moral do universo que ajudou a criar. Boksoon é, aqui, a consciência do sistema — o eco de um mundo que se desfaz.
Aspectos Técnicos
Estética e Direção
A direção de Lee Tae-sung investe num visual sombrio e elegante. O uso de luz e sombra reforça o contraste entre o silêncio e a violência. As cenas de luta, bem coreografadas e de ritmo preciso, mesclam realismo e estilização, com ênfase na fisicalidade e no tempo da respiração.
Em alguns trechos, porém, o filme perde ritmo e a montagem fragmentada dilui a tensão. Há belos planos que mereciam mais tempo para respirar, mas são rapidamente substituídos por transições abruptas.
Roteiro e Estrutura Narrativa
O roteiro tenta equilibrar intrigas políticas, dramas pessoais e dilemas éticos. A construção do universo é sólida, mas o excesso de subtramas e personagens dispersa o foco narrativo. A história ganha força quando se concentra na relação entre Mantis e Jae-yi, onde o conflito emocional atinge seu ponto máximo.
Apesar das falhas de ritmo, a estrutura narrativa mantém coerência e reforça a ideia central do filme: o caos como força de criação e destruição simultânea.
Trilha Sonora e Som
A trilha sonora de Dalpalan é marcada por minimalismo e tensão. Os momentos de silêncio são os mais potentes, ampliando a imersão e reforçando a sensação de perigo iminente. Os sons de impacto e respiração nas lutas são meticulosamente trabalhados, transformando cada confronto em uma experiência sensorial.
Falta, porém, um tema melódico mais marcante que unifique o filme emocionalmente. Ainda assim, o design sonoro sustenta o tom introspectivo e o peso simbólico do silêncio.
Análise Pessoal / Crítica
Mantis é um filme ambicioso e visualmente marcante, que tenta se libertar da sombra de Kill Boksoon para trilhar seu próprio caminho. A força está na atmosfera — fria, silenciosa e carregada de tensão psicológica.
Entretanto, a narrativa fragmentada e o excesso de subtramas enfraquecem o envolvimento emocional. O protagonista, embora carismático, oscila entre introspecção e passividade, o que dificulta o vínculo com o público.
Mesmo assim, há momentos de pura maestria: duelos silenciosos, olhares que dizem mais que diálogos, e uma melancolia que permeia o submundo retratado. Mantis pode não ser tão intenso quanto Kill Boksoon, mas é um complemento digno, que expande o universo sem desrespeitar sua origem.
Nota e Justificativa:⭐ 3,5 / 5,0
Pra mim Mantis tem boas ideias e cenas de ação muito bem coreografadas, mas às vezes quer ser mais do que precisa. É um filme bonito, cheio de estilo e momentos intensos, mas falta um pouco de emoção verdadeira. A sensação é de que ele tenta tocar o mesmo nível de profundidade de Kill Boksoon, sem conseguir chegar lá — ainda assim, há algo nele que prende o olhar e faz valer a experiência.
Se você se fascinou pelo mundo letal de Kill Boksoon, Mantis é um retorno inevitável. Vale assistir para mergulhar novamente no labirinto moral dos assassinos coreanos e observar como o silêncio pode ser tão mortal quanto o aço.
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Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação e Doramazine