Entre ferros de alisar e corações partidos, uma viagem sensível ao amor e à autoaceitação nos anos 90
Quando o passado é mais do que memória: é identidade
Em “Amor Enrolado”, somos transportados à vibrante Busan de 1998, onde a jovem Park Se-Ri tenta domar não apenas seus cabelos cacheados, mas os nós internos de sua autoestima. Envolta em um contexto onde beleza significa conformidade, Se-Ri acredita que só será amada se for como as outras: com fios lisos, fala mansa e sonhos previsíveis. É neste cenário, entre posters de boy bands e permanentes malfeitas, que o filme propõe um dilema ainda atual: até onde você se transformaria para ser aceito?
Se você já viveu o primeiro amor, lutou para se encaixar ou sentiu vergonha de algo que hoje considera belo, esta história é para você. Prepare-se para rir, se emocionar e, sobretudo, se reconhecer.
A partir daqui, spoilers leves
Park Se-Ri (interpretada com sensibilidade crua por Kim Tae-ri) é uma adolescente que vive entre duas forças: o desejo de ser notada por Kim Hyun, o garoto popular da escola, e a constante sensação de inadequação causada por seus cabelos cacheados — um símbolo de diferença em uma sociedade homogênea.
O conflito se intensifica com a chegada de Han Yoon-Seok, aluno transferido que também carrega cicatrizes invisíveis. Ele não tenta salvá-la, tampouco é o típico “príncipe rebelde”. Yoon-Seok é, antes de tudo, um espelho: silencioso, mas profundo. Seu acolhimento silencioso contrasta com a figura manipuladora de Ko In-Jeong, que oferece soluções imediatas, mas que cobram um preço emocional alto.
O filme não romantiza o sofrimento adolescente, mas também não o ridiculariza. Ele entende que, para uma jovem como Se-Ri, um frizz fora do lugar pode ser uma tragédia — e isso é tratado com a dignidade que merece.
Trilha sonora & roteiro: a alma dos anos 90
A trilha sonora é um capítulo à parte. Alternando entre baladas de Seo Taiji & Boys, momentos instrumentais melancólicos e clássicos do K-pop da época, cada faixa amplifica o estado emocional da protagonista. Não se trata de nostalgia gratuita, mas de uma reconstrução fiel de uma juventude moldada pelo rádio, pelas fitas cassete e pelas inseguranças que não cabiam em palavras.
O roteiro de Ji Chun-hee e Wang Doo-ri é surpreendentemente maduro para uma premissa simples. A escolha por diálogos contidos, muitas vezes interrompidos ou hesitantes, reflete não apenas a linguagem emocional dos adolescentes, mas também a cultura coreana de repressão e respeito à hierarquia social. Em vez de grandes discursos, temos olhares desviados, mãos entrelaçadas e silêncios que dizem tudo.
Um espelho delicado da adolescência
“Amor Enrolado” é mais do que um romance adolescente: é uma carta de amor às imperfeições que nos moldam. A jornada de Se-Ri, ao rejeitar o ferro de alisar para aceitar os próprios cachos, é metafórica e literal. E mais: profundamente coreana. Numa sociedade marcada pela padronização estética, a mensagem do filme é corajosa — e universal.
Apesar de alguns clichês narrativos e de um final talvez apressado, o longa entrega uma experiência emocional coesa, sincera e visualmente encantadora.
Nota final: 4,5 / 5
Justificativa: A direção sensível, os personagens tridimensionais e o forte subtexto cultural compensam os tropeços pontuais. Um filme que toca não por exagerar no drama, mas por tratar a dor adolescente com o respeito que ela merece.
Se seus sentimentos também já foram “enrolados”, assista e compartilhe
Este é o tipo de obra que pede para ser assistida com alguém que te viu crescer. Que tal reviver seus próprios anos 90 com um filme que entende o que você sentia, mesmo quando não sabia como dizer?
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Até o próximo post!!
Marcela Fábio
CEO e Editora Chefe
Imagem: Divulgação