Um filme intenso que questiona até onde a tecnologia pode preencher o vazio da ausência
A ideia de trazer de volta aqueles que amamos sempre esteve presente na cultura humana, seja por meio de memórias, cartas ou até mesmo sonhos. Wonderland leva esse conceito a outro nível ao apresentar uma sociedade em que a inteligência artificial permite reviver pessoas queridas de forma digital.
Com um elenco de peso e um roteiro que mescla ficção científica e drama humano, o filme nos leva a uma jornada emocional intensa, explorando temas como luto, apego e o que realmente significa seguir em frente. Mais do que uma história sobre tecnologia, Wonderland é uma reflexão sobre a natureza dos sentimentos humanos e a linha tênue entre conforto e ilusão.
Análise com spoilers
Os personagens de Wonderland são o coração da narrativa, cada um representando uma forma diferente de lidar com a ausência e o desejo de manter vínculos com aqueles que partiram.
Jung In (Bae Suzy) é uma mulher que não consegue aceitar a ausência de Tae Joo (Park Bo-gum), seu namorado em coma. Seu apego à versão digital dele é um reflexo de uma necessidade emocional profunda, enraizada na cultura coreana, onde o compromisso e a lealdade nos relacionamentos são valorizados acima de tudo. Para Jung In, manter uma rotina com Tae Joo, ainda que virtualmente, é uma forma de preservar o amor e o futuro que planejavam. Essa decisão, no entanto, levanta questionamentos sobre até que ponto a tecnologia pode realmente substituir a presença física de alguém.
O caso da mulher idosa (Tang Wei), que usa a Wonderland para reviver seu falecido marido, carrega um peso ainda maior. Na cultura coreana, a família tem um papel fundamental na construção da identidade e do bem-estar emocional. Para uma mulher que viveu décadas ao lado do marido, a solidão pode ser insuportável. A Wonderland se torna um refúgio, permitindo que ela mantenha um elo com seu passado, mas ao mesmo tempo, a impede de encontrar novas formas de viver o presente.
Gong Yoo e Jung Yu-mi interpretam os administradores da Wonderland, trazendo um olhar externo sobre a ética do serviço. Eles representam a interseção entre tecnologia e moralidade, questionando se permitir que alguém viva em um mundo digital criado a partir de memórias é uma forma de ajudar ou apenas prolongar o sofrimento.
No fundo, cada personagem reflete um dilema real: entre aceitar a perda e se agarrar a um eco digital do que já foi.
Aspectos técnicos
O impacto emocional do filme é amplificado pela trilha sonora, que mescla melodias suaves com temas melancólicos. Cada nota musical contribui para a atmosfera introspectiva da narrativa, reforçando a sensação de nostalgia e a luta interna dos personagens. O uso de silêncios em momentos-chave também é um recurso poderoso, intensificando a solidão e a desconexão entre a realidade e o mundo digital da Wonderland.
O roteiro é construído com inteligência, equilibrando momentos de emoção e questionamento filosófico. Ele não força respostas, mas deixa espaço para que o espectador reflita sobre suas próprias perdas e o que faria se tivesse acesso a uma tecnologia semelhante. A escolha de não transformar a Wonderland em uma vilã, mas sim em uma ferramenta que pode ser usada tanto para o bem quanto para o autoengano, é um dos maiores acertos da história.
Visualmente, o filme aposta em uma estética limpa e futurista, mas sem exageros, criando um futuro próximo que parece totalmente plausível. As cenas dentro da Wonderland são envoltas em uma luz suave, quase etérea, contrastando com a realidade mais fria e crua do mundo real. Esse contraste reforça a diferença entre a ilusão do conforto e a dureza da vida sem aqueles que amamos.
Wonderland não é apenas um filme sobre inteligência artificial; é uma história sobre amor, perda e a necessidade humana de conexão. Ele nos faz perguntar: se tivéssemos a chance de reviver alguém que perdemos, aceitaríamos a ilusão ou encontraríamos força para seguir em frente?
Com atuações marcantes, um roteiro reflexivo e uma trilha sonora emocionalmente envolvente, Wonderland é uma experiência cinematográfica imperdível para quem aprecia histórias profundas e questionamentos filosóficos.
Se você busca um filme que desafia a forma como enxergamos a tecnologia e o luto, essa é a escolha perfeita. Prepare-se para sentir, refletir e, acima de tudo, se emocionar.
Pra quem pediu está de volta da pontuação nas minhas resenhas: 9,5 só para não dar 10 mesmo!! rsrs
Até o próximo post!!
Marcela Fábio
Colunista, Escritora e Dorameira/Army
Imagem: Divulgação Netflix